Pela Invisibilidade do Open Finance!

por: Carlos Castro, CFP® em 09/09/2024

Planejamento Financeiro

Fazer uma analogia do Open Finance com a chegada da Internet é inevitável para o momento que estamos vivendo.

No início da Internet, a diferença entre ""www"" e ""@"" era um mistério para muitos. Conectar-se à rede exigia paciência e um modem de linha discada, transformando o simples ato de se conectar em uma aventura tecnológica. O processo era complexo e gerava fricção, desviando a discussão para como a Internet funcionava, com termos técnicos se misturando em nossas conversas diárias.

Hoje, porém, a Internet se tornou tão essencial quanto água e luz. Ninguém mais se preocupa com o mecanismo que nos conecta ao mundo digital. O foco está nos benefícios que ela nos proporciona. A Internet se tornou tão integrada à nossa vida que só percebemos sua presença quando falta. Este é exatamente o futuro que se vislumbra para o Open Finance.

Mas, afinal, o que é Open Finance? Open Finance é uma evolução do conceito de Open Banking. Enquanto o Open Banking se restringe ao compartilhamento de dados financeiros de contas bancárias e serviços de pagamento entre diferentes instituições, o Open Finance amplia esse escopo para incluir informações de outros produtos financeiros como seguros, investimentos, previdência e câmbio. Através de interfaces de programação de aplicações (APIs) padronizadas e seguras, o Open Finance permite que consumidores e empresas compartilhem seus dados financeiros com terceiros, de forma consentida, para obter produtos e serviços mais personalizados, transparentes e competitivos.

Assim como a Internet, o Open Finance se tornará uma parte indispensável da infraestrutura das plataformas financeiras, pavimentando o caminho para a criação de valor real para os clientes. Neste momento, estamos discutindo como a conexão do Open Finance funciona, os consentimentos e as integrações, mas saibam que isso é apenas o começo. Estamos na fase dos ""modens discados"" do Open Finance, onde o foco ainda é o funcionamento e a adaptação inicial. A verdadeira revolução ocorrerá quando essa discussão desaparecer e o Open Finance se tornar uma ferramenta tão integrada quanto a própria Internet.

O Open Finance trará benefícios significativos ao mercado de investimentos e crédito. Ao permitir que dados financeiros sejam compartilhados de forma segura e consentida, abrirá caminho para uma concorrência mais justa entre instituições financeiras que poderão oferecer produtos mais personalizados e acessíveis. No mercado de crédito, por exemplo, o acesso a um histórico financeiro mais detalhado e preciso poderá reduzir significativamente o risco de inadimplência, resultando em taxas de juros menores para os consumidores.

Além disso, o Open Finance incentivará o surgimento de soluções inovadoras. Imagine um futuro próximo em que plataformas possam fornecer aconselhamento financeiro personalizado com base em uma análise completa dos dados financeiros de uma pessoa, incluindo seus hábitos de consumo, suas economias, investimentos e perfil de risco. Ferramentas de automação financeira poderão otimizar o pagamento de dívidas, a alocação de investimentos e até mesmo o planejamento de longo prazo, tornando os serviços financeiros mais acessíveis e intuitivos para todos.

O impacto do Open Finance na economia pode ser profundo. Ao democratizar o acesso a produtos e serviços financeiros, ele poderá aumentar a inclusão financeira e estimular o crescimento econômico. Pequenos negócios poderão se beneficiar de melhores condições de crédito, impulsionando a inovação e a geração de empregos. As startups financeiras terão mais acesso aos dados dos clientes, permitindo-lhes criar produtos mais competitivos e atrativos. Com isso, o Open Finance também poderá fomentar a entrada de novos players no mercado, aumentando a competição e trazendo benefícios diretos aos consumidores.

Mas para que o Open Finance seja amplamente adotado, ele precisará se tornar invisível. Assim como não discutimos mais sobre como a Internet funciona, mas apenas sobre o que ela nos permite fazer, o Open Finance precisará seguir o mesmo caminho. Quando não percebermos mais sua presença, mas sim sua falta, saberemos que ele alcançou seu propósito. Ele se tornará tão integrado e essencial que não discutiremos mais sobre seus mecanismos, mas sim sobre os benefícios que ele proporciona para nossas vidas financeiras.

O futuro do Open Finance é ser uma base invisível e robusta para uma nova geração de serviços financeiros, facilitando a criação de soluções que nunca imaginamos. O valor estará naquilo que ele possibilita e não nos mecanismos que o sustentam. Será o momento em que a tecnologia financeira alcançará sua maturidade: invisível, indispensável e tão natural quanto a própria Internet.

Carlos Castro é planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico. E-mail: carlos.castro@superrico.com.br