O futuro dos investimentos: para onde vai a distribuição de produtos financeiros?
por: Jayme Carvalho, CFP® em 11/03/2025
Poupança e Investimentos
Embora possam ser considerados sinônimos, na cabeça do brasileiro, investir e poupar não são a mesma coisa. Poupar é o ato de guardar dinheiro, seja comprando uma casa, reservando em um cofre físico, adquirindo um carro ou um produto financeiro. Investir, por outro lado, é algo mais sofisticado: significa buscar o crescimento do capital poupado por meio de ativos financeiros.
Investir não é simples. Há muitas incertezas, além da complexidade imposta pela legislação e pelo jargão técnico usado pelos vendedores. Como empreendedor na área de educação financeira, percebo um avanço lento por parte dos brasileiros na capacidade de poupar parte da renda. O alto endividamento, o consumo elevado e as apostas online corroem a renda da população, levando muitos a depender do INSS e de programas sociais para a subsistência, quando não da assistência dos filhos para garantir a sobrevivência dos pais.
O rápido envelhecimento da população e as limitações fiscais tornarão a aposentadoria pública um benefício cada vez mais restrito às pessoas de baixa renda. Diante disso, é urgente que aqueles que possuem renda transformem seus recursos em investimentos, para que possam se beneficiar dos juros ao longo do tempo e garantir a manutenção de parte do padrão de vida atual.
As soluções de investimento para preservar o valor do dinheiro ao longo do tempo são muitas, desde fundos de previdência até opções inovadoras, como o Tesouro Renda+. Investir nunca foi tão acessível para os clientes. A oferta entre bancos e plataformas é muito similar, e a concorrência fez com que os custos de assessorar um cliente e a remuneração dos produtos caíssem para padrões internacionais.
O grande desafio agora para plataformas e bancos é ajudar o cliente a investir uma maior parcela de sua renda disponível. Esse é um desafio significativo. Pesquisas da Anbima, como o RX do Investidor, mostram que o cidadão comum não prioriza o investimento, e a diferença entre poupar e investir ainda é pouco compreendida. Falar apenas sobre produtos financeiros não é suficiente para estimular as famílias a mudarem seus hábitos. É preciso ir mais fundo: gerar simulações, incentivar sonhos, demonstrar que é possível realizá-los, eliminar gastos desnecessários e distrações e oferecer recompensas pessoais como estímulo para essa transformação. Isso é difícil de ser feito digitalmente ou por meio de conversas pontuais.
Na SuperRico, empresa da qual sou sócio, contamos com centenas de planejadores que conversam diariamente com clientes nessa missão. No contexto dos investimentos, o papel do Advisory de produto ou assessor de investimentos enfrenta um grande risco com a evolução da inteligência artificial. Em um mundo com múltiplos canais de venda de produtos, uma ferramenta digital na mão do cliente pode avaliar custos, aderência ao perfil de risco, necessidade de liquidez e realizar ordens de investimento. Do lado das empresas, o monitoramento da conta corrente — seja por vencimentos ou novos aportes —, a troca de classes de ativos e a personalização da comunicação com os clientes também podem ser automatizados de forma eficiente.
A necessidade de ajudar o cliente a poupar mais e a evolução da tecnologia, que substitui o profissional de investimentos no dia a dia, deverá provocar mudanças na formação desses profissionais e no papel dessas equipes dentro das instituições financeiras. Do lado dos profissionais, esse movimento já está em curso. A busca pela Certificação para Planejadores Financeiros (CFP) da Planejar está crescendo e reflete esse desejo de transformação. Vejo esse movimento também pelo aumento da demanda no MBA de Planejamento Financeiro da Galicia Educação, em parceria com a SuperRico.
Ou seja, o futuro do mercado de investimentos passa pela atuação de um profissional mais holístico, que auxilie o cliente em todas as suas necessidades financeiras, apoiado por ferramentas de análise de produtos e um modelo mais consultivo. Diante da legislação brasileira, que define papéis distintos para remuneração e limites de execução, observamos o crescimento das consultorias de investimentos. Apesar de ainda funcionarem de forma manual e com baixa adoção de tecnologia, essas consultorias impulsionam as plataformas de investimentos, que se destacam nesse movimento ao oferecer tecnologia para execução das necessidades dos clientes, sem a intermediação de um profissional, como ocorre nos bancos.
Se, no passado, as plataformas se destacaram ao democratizar produtos do Private para o varejo e transformar o mercado, agora inovam novamente promovendo consultorias de investimentos inspiradas no modelo de Family Offices de varejo, em parceria com seus escritórios de assessoria. Isso permite que o cliente escolha como deseja ser atendido.
Afinal, quando um cliente recebe suporte adequado, é natural que ele invista com quem lhe ofereceu essa orientação. Essa abordagem pode parecer lógica, mas representa uma mudança radical em aspectos como novos produtos, modelos de remuneração de diferentes áreas e gestão de equipes. Vamos acompanhar essa evolução.
Jayme Carvalho é planejador financeiro, economista-chefe e sócio da SuperRico - plataforma de saúde financeira