Executivos apostam em transição para ser planejador financeiro

por: Carlos Castro, CFP® em 13/01/2019

Planejamento Financeiro

03/01/2019 - Executivos apostam em transição para ser planejador financeiro

 

Por Danylo Martins - Valor Econômico

 

Mais comum em outros mercados como Estados Unidos, Japão e China, a profissão de planejador financeiro está em constante crescimento no Brasil, principalmente nos últimos cinco anos. Conforme dados da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), o número de planejadores financeiros com a certificação CFP (Certified Financial Planner) triplicou desde 2013 - hoje são quase 4 mil. A associação estima que dois terços dos profissionais atuem em bancos, boa parcela deles no segmento private banking. Ainda assim, a carreira independente atrai cada vez mais profissionais de áreas diversas como advogados, administradores e engenheiros. São pessoas que decidiram trocar o ambiente corporativo pelo atendimento a pessoas e famílias.

 

O engenheiro elétrico Carlos Castro, 45 anos, optou por trilhar esse caminho depois de trabalhar com tecnologia por mais de 20 anos. Passou grande parte da carreira na Siemens, onde começou na área de suporte técnico e depois migrou para os departamentos de marketing e produtos. Com o tempo, galgou posições executivas, entre elas, head de operações para a América Latina, cargo que ocupou por seis anos. Após a mudança de nome da Siemens Enterprise Communications para Unify, em 2013, Castro assumiu como head de marketing de produtos e pre-sales para América Latina da Unify, onde permaneceu até o fim de 2017, quando resolveu colocar em prática o plano de empreender, idealizado muitos anos antes. ""A ideia de empreender surgiu há cinco anos, mas a de transição de carreira veio efetivamente há dez. Percebi lá atrás que a carreira corporativa não era para sempre e que eu tinha uma capacidade empreendedora muito grande"", conta. A decisão de se tornar planejador financeiro ganhou corpo aos poucos, mas está intimamente ligada à relação que tinha com o dinheiro quando começou a trabalhar, aos 14 anos. Aprendeu ""a duras penas"" a lidar com as finanças. Durante o curso técnico de eletroeletrônica, percebeu que precisaria sanar as dívidas para conseguir pagar a faculdade. ""Hoje, minha experiência de vida ajuda no dia a dia como planejador financeiro"", afirma.

 

Antes mesmo de deixar o mundo corporativo para se dedicar à nova carreira, Castro orientava os colegas de trabalho sobre questões financeiras. Tanto é que, entre 2008 e 2013, conquistou os primeiros clientes, ainda informalmente. Daí começou a pesquisar sobre o mercado e chegou à certificação CFP - criada nos EUA na década de 1970. Estudava para o exame de certificação em paralelo à carreira executiva, levando os livros nas viagens a trabalho. Castro se tornou CFP em 2015 e há dois anos montou a fintech SuperRico, que oferece serviço tanto para clientes pessoas físicas quanto para planejadores financeiros. Além de Castro, a empresa conta com outros nove profissionais e cobra entre R$ 3.500 e R$ 5.000 por ano pelo serviço de planejamento financeiro. Hoje, Castro atende 60 clientes, inclusive pessoas que o procuraram lá no início. Para quem está pensando em seguir o mesmo caminho que ele, o profissional indica se preparar com pelo menos dois anos de antecedência para a transição.

 

Com uma trajetória de quatro anos no Itaú Unibanco, o administrador Jaques Cohen, 33 anos, sentia falta de propósito e dinamismo na carreira corporativa. Trocou o dia a dia no banco por uma experiência de três anos e meio em uma empresa familiar, em Guarulhos (SP), mas não ficou satisfeito. Em 2015, enxergou no planejamento financeiro um caminho para empreender, e criou a consultoria Lab do Valor. O nome veio do ""sentido de criação de valor"", não só monetário, mas diversos tipos de valores. Ainda em 2015, Cohen se tornou planejador certificado (CFP) e fez a formação vivencial prática em planejamento financeiro, iniciativa do economista e psicanalista Fabiano Calil. No mesmo ano, participou do curso de introdução à psicologia econômica, ministrado pela psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, autora dos primeiros livros sobre psicologia econômica no Brasil. ""Comecei atendendo pessoas aos poucos, primeiro pelo boca a boca, realizei alguns workshops gratuitos e divulguei o trabalho nas redes sociais"", conta. O atendimento a indivíduos e casais foi o primeiro passo na carreira como planejador financeiro. Nos últimos anos, Cohen passou a desenvolver projetos de educação financeira para empresas, bancos e fintechs. Atualmente, ele presta o serviço de planejamento financeiro a cinco clientes fixos e algumas pessoas que já atendeu o procuram para trabalhos pontuais.

 

A economista Angela Nunes fez carreira no setor financeiro, atuando como diretora de bancos como Itamarati e Banco de Crédito Nacional (BCN), esse último comprado em 1997 pelo Bradesco e incorporado totalmente em 2004. Naquele ano, Angela deixou a instituição e passou a oferecer palestras e treinamentos em empresas. Da amizade com o também economista Fernando Meibak (com passagens por Citibank, ABN Amro Real e HSBC) nasceu a consultoria financeira Moneyplan, criada em 2008. ""Começamos a ver que as pessoas precisavam muito de orientação financeira"", diz. No ano seguinte, ela tirou a certificação CFP. Hoje, Angela equilibra a rotina de planejadora financeira com atividades em comissões da Planejar.

 

Segundo Jan Karsten, presidente da Planejar, o grande desafio no Brasil é que a profissão de planejador financeiro não é regulamentada como em outros países. Integrante da primeira turma que tirou a certificação CFP, ele defende que, assim como advogados e médicos de confiança, as famílias brasileiras deveriam ter um planejador financeiro. Para que isso se torne cada vez mais realidade, uma série de iniciativas tem sido desenvolvida pela associação.

 

Em 2019, a Planejar vai lançar um pacote de conteúdo para o profissional que deseja começar a carreira de planejador financeiro. ""Será um kit com informações como modelos de contrato, tipos de empresa, modelos de remuneração pelo serviço, planos de negócio, tudo que vai permitir ao planejador montar seu negócio"", explica.