“Envelhecer é inevitável. Envelhecer bem é uma escolha!”
por: Carlos Castro, CFP® em 19/11/2024Planejamento Financeiro
O Brasil está envelhecendo. Dados recentes do IBGE revelam uma transformação significativa na pirâmide etária do país. A população brasileira está cada vez mais envelhecida e a expectativa de vida ao nascer já ultrapassa os 76 anos. Em 2060, mais de 30% da população terá 60 anos ou mais. Em números absolutos, isso significa que cerca de 73 milhões de brasileiros estarão na terceira idade, um aumento significativo em relação aos 33 milhões atuais. Esse fenômeno é reflexo positivo de avanços na medicina, na qualidade de vida e na redução das taxas de mortalidade, mas também representa desafios inéditos para a sociedade, para a economia e, sobretudo, para a vida financeira das pessoas.
Para entender melhor essa transformação, é útil conhecer o conceito da pirâmide etária. A pirâmide etária é um gráfico que representa a distribuição da população por idade e sexo. Na sua base estão os grupos mais jovens e no topo as pessoas de idade mais avançada. Historicamente, a pirâmide etária do Brasil apresentava uma base larga, indicando uma alta proporção de jovens e um topo estreito, refletindo uma menor proporção de idosos. No entanto, com a queda das taxas de natalidade e o aumento da expectativa de vida, essa pirâmide está se invertendo. A base está se estreitando enquanto o topo se alarga, indicando um aumento grande da população idosa. Essa mudança é um dos sinais mais claros do envelhecimento da população.
Um dos debates mais importantes relacionados a esse envelhecimento é o conceito de bônus demográfico. O Brasil teve, nas últimas décadas, uma janela de oportunidade única: uma grande parte da população em idade ativa capaz de trabalhar e gerar riqueza. Hoje, esse grupo corresponde a 56% da população total, mas em 2060 deverá cair para 47%. No entanto, essa janela está se fechando. Em 2023, o país atingiu o ponto de inflexão em que o crescimento da população idosa começa a superar o da população economicamente ativa. A pergunta que muitos se fazem é: perdemos o bônus demográfico?
Há quem defenda que sim. Perdemos o bônus demográfico porque não conseguimos aproveitar o período de maior produtividade da população para aumentar substancialmente o nível de renda, promover educação de qualidade e preparar o país para o envelhecimento inevitável. Outros, no entanto, acreditam que ainda podemos reverter parte desse cenário, apostando no bônus da produtividade. Isso significa que, mesmo com uma população envelhecida, ainda podemos crescer e equilibrar os custos do envelhecimento se conseguirmos aumentar a produtividade da força de trabalho existente.
Para aproveitar o bônus da produtividade, é essencial investir em educação, tecnologia e inovação, proporcionando condições para que as pessoas continuem produtivas após os 60 anos. Atualmente, cerca de 8,5% dos brasileiros com 60 anos ou mais ainda estão no mercado de trabalho, uma taxa relativamente baixa se comparada a países como o Japão, onde esse índice chega a 25%. Esse é um desafio considerável! A realidade é que muitos brasileiros chegam aos 60 anos sem uma renda adequada para sustentar sua longevidade e o mercado de trabalho não está suficientemente preparado para absorver essa mão de obra mais velha.
A geração de renda acima dos 60 anos se torna, portanto, uma necessidade para muitos, mas o cenário atual não é animador. O mercado de trabalho, historicamente, tende a ser excludente com pessoas de maior idade, apesar de seu conhecimento e experiência. Para reverter esse quadro, é preciso criar um ambiente mais inclusivo, onde a longevidade seja vista como um ativo e não como um ônus. Empresas e governos devem desenvolver políticas que incentivem a permanência dos mais velhos no mercado, seja por meio da requalificação profissional, seja pelo incentivo ao empreendedorismo e à economia colaborativa.
Mas, enquanto essas mudanças estruturais não ocorrem, é necessário que cada indivíduo assuma o protagonismo de seu próprio futuro. Para aqueles que já passaram dos 50 anos e não se prepararam financeiramente para a aposentadoria, não é tarde para começar. O planejamento financeiro torna-se ainda mais urgente. Ajustar o estilo de vida atual, começar a poupar de forma agressiva e buscar novas fontes de renda como trabalho autônomo ou investimentos, são medidas fundamentais para garantir uma longevidade com qualidade de vida.
O desafio de planejar financeiramente para a longevidade é real, mas também pode ser uma oportunidade para uma nova fase da vida, onde a experiência acumulada pode ser transformada em valor. Mesmo quem já passou dos 50 anos tem a chance de construir um futuro mais seguro e confortável. O planejamento financeiro, nessa fase da vida, deve focar em manter a renda estável, reduzir despesas desnecessárias e diversificar investimentos, sempre alinhado ao perfil de risco de cada pessoa.
O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno inevitável, e seus desafios são imensos. A mudança na pirâmide etária, com uma base cada vez mais estreita e um topo mais largo, coloca pressão sobre o sistema de seguridade social e a economia como um todo. O Brasil, que em 1980 tinha uma proporção de cinco pessoas em idade ativa para cada idoso, deve ver essa proporção cair para menos de dois ativos por idoso em 2060. No entanto, ainda podemos aproveitar o bônus da produtividade para mitigar os impactos desse envelhecimento. E, para quem já está na segunda metade da vida, nunca é tarde para começar a planejar. Ter um plano financeiro é a melhor maneira de garantir uma longevidade com qualidade de vida, sem depender exclusivamente das políticas públicas ou de um mercado de trabalho incerto. Afinal, parafraseando Sêneca, envelhecer é inevitável, mas envelhecer bem é uma escolha.
Carlos Castro é planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico.