Entenda como a queda da Selic impacta cada tipo de investimento

por: Carlos Castro, CFP® em 08/05/2020

Poupança e Investimentos

Publicado na Folha de S. Paulo - 6/maio/2020 por Júlia Moura

 

Fundos de renda fixa ficam menos vantajosos com o juro baixo

 

A Selic na mínima histórica de 3% ao ano deixa a renda fixa menos vantajosa para o investidor. Nesse cenário, fundos de investimento de renda fixa perdem competitividade em relação a poupança por terem o encargo da taxa de administração e do Imposto de Renda, apontam especialistas.

 

“O custo dos fundos fica mais alto e o fundo pode gerar retorno real negativo. É importante que o investidor busque opções com taxa de administração baixa”, diz Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar.

 

Ele aponta que taxas de administração acima de 0,5% ao ano já são consideradas caras, já que muitos fundos de renda fixa zeraram suas taxas nos últimos meses com a queda de juros.

 

Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças rendem mais que a poupança. No caso de prazo entre seis meses e um ano, a rentabilidade dos fundos e da poupança é igual. O mesmo acontece com fundos que tenham taxa de até 1% em prazos acima de dois anos.

 

O rendimento da poupança é de 70% da Selic mais taxa referencial (TR) que, no momento, é zero. Segundo a Associação, com a Selic a 3%, a poupança rende 2,10% ao ano e 0,17% ao mês.

 

 

RENTABILIDADE DA RENDA FIXA COM SELIC A 3% AO ANO

 

Levantamento feito pela Yubb, com base na rentabilidade média de cada investimento

 

• Recibos de Depósito Bancário (RDB)

Rentabilidade bruta anual cai de 4,98% para 3,99%

 

• Debênture

Rentabilidade bruta anual cai de 4,95% para 3,96%

 

• Debênture Incentivada

Rentabilidade líquida anual cai de 4,62% para 3,69%

 

• CDB (Certificado de Depósito Bancário)

Rentabilidade bruta anual cai de 4,11% para 3,29%

 

• LCI (Letra de Crédito Imobiliário)

Rentabilidade líquida anual cai de 3,80% para 3,04%

 

• LCA (Letra de Crédito do Agronegócio)

Rentabilidade líquida anual cai de 3,66% para 2,93%

 

• Poupança

Rentabilidade líquida anual cai de 2,63% para 2,10%

 

• Tesouro Selic 2025

Rentabilidade bruta anual cai de 3,78% para 3,03%

 

Apesar do rendimento baixo, a poupança é mais vantajosa que alguns fundos por não ter taxa de administração e ser isenta de imposto de renda (IR).

 

Devido a incidência do IR, aplicações em CDB (Certificados de Depósito Bancário) , por exemplo, são mais vantajosas que poupança apenas quando rendem a partir de 85% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

 

Porém, segundo Castro, da Planejar, CDBs e outros investiementos de renda fixa devem ser analisados em comparação com a inflação e não apenas com relação ao CDI, que segue a Selic. “Como a inflação também está caindo, ainda temos juro real de mais de 1%”, diz.

 

A taxa de juros real equivale a taxa de juros nominal (3% ao ano) menos a inflação anual. Segundo estimativa do mercado, a inflação de 2020 deve ser de 1,97%.

 

"É importante entender que a renda fixa continua como uma opção interessante, desde que supere a inflação. Para ter certeza de que não ficará abaixo da inflação, títulos indexados ao IPCA são interessantes, como Tesouro IPCA, CDBs, LCIs e LCAs indexadas ao IPCA", diz Bernardo Pascowitch, CEO e fundador do Yubb.

 

Outra dica dos especialistas é escolher produtos que tenham cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) caso o banco emissor vá à falência. Há um limite de cobertura de R$ 250 mil por CPF, por instituição financeira, com teto de R$ 1 milhão. “O ideal é aportar menos que R$ 250 mil em quatro instituições distintas”, diz Castro.

 

Também é importante estar atento ao banco que emite o certificado. Quando mais arriscado o emissor, mais alta a remuneração. Outro ponto é a liquidez. Apesar de rendimentos maiores, os CDBs de bancos pequenos e médios não tem liquidez diária e sim, prazo de vencimento, que varia de seis meses a dois anos.

 

 

VEJA COMO A REDUÇÃO DA SELIC IMPACTA O DÓLAR:

 

Dentro da renda variável, o ouro e o dólar são opções de segurança, já que eles tendem a ter o comportamento inverso do mercado de ações, se valorizando em momentos de aversão a risco.

 

“O corte da taxa básica de juros a mínimas recordes sucessivas tem sido fator de pressão sobre o real, tornando o cenário brasileiro menos atraente para o investidor estrangeiro. Esse contexto é ainda agravado pela pandemia de coronavírus e conflitos políticos recentes entre Executivo e Legislativo”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

 

O cenário de juros baixo contribui para a alta do dólar por meio do carry trade —prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros.

 

Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, onde o juro é maior. Com a Selic na mínima histórica, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.

 

Segundo o Focus, novos cortes devem ser feitos ao longo do ano, levando a Selic para 2,75% ao fim de 2020. Sendo assim, o real tende a seguir depreciado.

 

 

VEJA COMO A REDUÇÃO DA SELIC IMPACTA A RENDA VARIÁVEL:

 

Quanto menor o rendimento da renda fixa, maior tende ser o investimento do brasileiro na renda variável. Em 2019, a queda do juros foi um dos fatores que levou o Ibovespa a sucessivos recordes. Especialistas apontam, porém, que dado a mudança no cenário macroeconômico, a renda variável se torna ainda mais arriscada.

 

“A Bolsa não deve voltar para 115 mil pontos este ano, mesmo que a gente saia do isolamento social. Mudou o fundamento econômico e a retomada da atividade econômica não será tão rápida”, diz Castro.

 

Segundo projeções do mercado, o Ibovespa deve terminar o ano na faixa de 90 mil pontos. Nesta quarta, fechou a 79 mil pontos, queda de 0,5%. No ano, o índice acumula desvalorização de mais de 30%.

 

Devido ao cenário, a recomendação é que investidores de perfil conservador e moderado diminuam sua exposição ao risco. Quando o Ibovespa estava em alta, as recomendações de renda variável para estes perfis era de 10% e 20% da carteira, respectivamente. Hoje, é recomendado no máximo 5% e 15%, aumentando proporcionalmente a fatia da renda fixa.

 

Além de ações, o cenário negativo também impacta fundos multimercados, que combinam aplicações conservadoras, como títulos públicos, como ativos mais arriscados, ações e dívidas de empresas no exterior. Neste ano, os fundos com mais ativos de renda variável em sua carteira acumulam rentabilidade negativa.

 

 

COMO SABER SEU PERFIL DE INVESTIDOR

 

Conservador

O conservador preza estabilidade do investimento. Ele quer saber qual será o rendimento ao fim do mês, sem arriscar perder dinheiro ou ter surpresas no meio do caminho. No passado, mantinha toda a carteira em renda fixa, mas, com a queda da rentabilidade, analistas recomendam uma pequena alocação em fundos multimercado.

 

Moderado

O moderado aceita mais oscilações nos investimentos, especialmente a longo prazo, mas também preza a garantia do retorno. Sua carteira é mais diversificada do que a do conservador, com maior espaço para a renda variável.

 

Arrojado

O arrojado está mais disposto a correr risco em nome do retorno maior. Ele tem mais tranquilidade para lidar com oscilações bruscas do mercado de renda variável, que ocupam boa parte da carteira.

 

Agressivo

O agressivo não tem medo de perder em algumas aplicações para ganhar em outras. Ele tem sangue frio para aguentar o tranco de uma queda brusca de ações.

 

É importante destacar que investimentos devem ser encarados como de médio a longo prazo. Investimentos com retornos de curto prazo podem ser muito arriscados e levar a prejuízos.

 

Geralmente, corretoras e bancos avaliam o seu perfil, de acordo com idade, renda, profissão e objetivos.

 

RESERVA DE EMERGÊNCIA

 

Antes de investir, é preciso garantir a reserva emergencial. Ela cconsiste em, no mínimo, seis meses de gastos mensais alocados em um investimento de renda fixa que supere a inflação e possa ser resgatado no mesmo dia sem perda de valor, como o Tesouro Selic, fundos DI e CDBs (Certificado de Depósito Bancário) acima de 100% do CDI. Essa reserva deve ser utilizada em caso de desemprego ou de emergências médicas para evitar a contração de dívidas.

 

COMO DIVERSIFICAR INVESTIMENTOS

 

Depende do apetite a risco, pessoas de perfil conservador devem ter a menor parte da carteira em ações, por exemplo.

 

• Pós-fixados

Acompanham a taxa de juros. Se o juro sobe, a rentabilidade aumenta; se ele cai, o ganho diminui. São os investimentos mais seguros, e mesmo as pessoas mais arrojadas têm uma parcela de seu dinheiro nesses produtos. CDBs de bancos pequenos, vendidos em corretoras, pagam mais que os grande bancos. A aplicação é longo prazo, e o dinheiro fica parado até o vencimento.

Opções: poupança, CDBs, LCA e LCI, Tesouro Selic e fundos DI

 

• Prefixados

Têm uma taxa de juros combinada no momento da aplicação, que não muda mesmo que a Selic suba ou caia. Há risco em caso de venda antecipada e é o primeiro patamar de diversificação.

Opções: Tesouro prefixado e CDBs de bancos pequenos

 

• Inflação

São investimentos que pagam uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação no período. Mudam de preço todo dia, então, para evitar risco, perdas, o investidor precisa manter até o final.

Opções: Tesouro IPCA+ e CDB's de bancos pequenos

 

• Fundos multimercados

Investem em mais de um tipo de ativo. Geralmente combinam aplicações conservadoras, como títulos públicos, com ativos mais arriscados, que podem ser dívidas em empresas, ações e dívidas de empresas no exterior. Para saber no que um fundo investe, é preciso ler o informativo.

 

• Ações

Para pessoas de perfil arrojado. É possível escolher papéis individualmente ou investir por meio de fundos ativos ou aqueles que acompanham um índice (ETFs).

 

Para quem aceita risco

GLOSSÁRIO DOS INVESTIMENTOS

 

• Os principais investimentos de renda fixa de bancos são CDBs, LCAs e LCIs; quanto maior o banco, menor a remuneração, porque o risco de calote é menor; as letras de crédito são isentas de IR; em caso de calote, há cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira.

 

• Empresas emitem debêntures, e o dinheiro vai para financiar investimentos; quem compra uma debênture corre o risco de calote da empresa, já que não há garantia do FGC; ao investir em uma debênture, corre-se o o risco de calote da empresa; quando o dinheiro é destinado a obras de infraestrutura, há isenção de Imposto de Renda.

 

• No investimento prefixado, o rendimento é conhecido na hora da aplicação; é vantajoso quando há expectativa de queda de juros; no momento atual, os títulos mais longos consideram que as taxas vão subir mais que o mercado considera que vá acontecer; por isso, há chances de rendimento maior em outros tipos de renda fixa.

 

• O Tesouro IPCA+ paga uma taxa de juros fixa mais a variação da inflação; esse investimento garante o poder de compra do dinheiro em aplicações de longo prazo, mas pode sofrer oscilações de preços e gerar perdas em caso de resgate antes do vencimento.

 

• CDI é uma taxa de juro que acompanha a Selic e costuma ser referência para remuneração de investimentos de renda fixa emitidos por bancos. Com a queda da Selic, ela passa de 3,65% para cerca de 2,90% ao ano.

 

•  ETFs são fundos que replicam um índice de ações, como o Ibovespa; o ganho desse fundo será, ao final de um período, o mesmo registrado pela Bolsa; como é um fundo passivo (não há um gestor tomando decisões de investimento), tem taxas mais baixas.